Moura Guedes acusa Sócrates de pressionar
Manuela Moura Guedes levantou ontem suspeitas sobre a investigação ao caso Freeport, afirmando, durante a sua audição na Comissão Parlamentar de Ética, que as alegadas pressões do primeiro-ministro não recaem apenas sobre as "redacções", mas também sobre os investigadores. "Há investigadores que também recebem telefonemas do gabinete do primeiro-ministro", disse. E precisou: "A inspectora Alice, de Setúbal, também recebe telefonemas e é permeável a eles."
Foi desta forma que a pivot da TVI respondeu a um comentário da deputada do PS Isabel Oneto, que não apenas lembrou que o caso foi arquivado na Grã-Bretanha, como também aludiu às recentes declarações da directora do Departamento Central de Investigação e Acção Penal, Cândida Almeida. Na passada semana, no Parlamento, Cândida Almeida admitiu que o nome de Sócrates consta do processo, mas que não existe qualquer investigação sobre a acção do primeiro-ministro.
Neste contexto, Moura Guedes aproveitou ainda para propor aos deputados a criação de um inquérito sobre a investigação em torno do Freeport: "Era bom que existisse um inquérito sobre como correu o caso Freeport", lançou. E acusou a actual Direcção de Informação (DI) da TVI de fazer uma "gestão política das notícias", por divulgar a informação sobre o Freeport de modo mais espaçado, como reconhece Júlio Magalhães. A jornalista diz que "há documentos do Freeport que estão lá desde Setembro, que implicam o primeiro-ministro e não são postos na antena" porque a DI os "desvaloriza". São "sobre tranches de pagamentos e depósitos feitos na Smith & Pedro, e-mails trocados entre os vários intervenientes", contou.
A DI desmentiu, entretanto, a jornalista, afirmando em comunicado que " a TVI divulgou oito notícias próprias sobre o processo Freeport desde Setembro de 2009, quando a actual DI entrou em funções". Neste momento, acrescenta a estrutura liderada pelo jornalista Júlio Magalhães, "não existe qualquer peça pronta sobre o caso Freeport. Se um dia existir, será emitida no tempo e espaço definidos por quem tem essa responsabilidade". "Os jornalistas da TVI declararam no passado dia 17 de Fevereiro que não sentiram, nem sentem, até ao presente, qualquer constrangimento no desempenho cabal do seu trabalho", conclui o documento.
Queixas a Cébrian
Moura Guedes contou que a decisão de suspender o Jornal de Sexta foi tomada em Espanha e desmentiu Bernardo Bairrão, reiterando que este lhe contou ter sido o socialista António Vitorino a pressionar a Prisa para acabar com o programa (ao PÚBLICO, Bairrão manteve a sua versão). E Manuela Moura Guedes revelou novos dados: "Juan Luís Cébrian [patrão da Prisa] contou a várias pessoas que estava farto de receber telefonemas do primeiro-ministro, porque Sócrates até tinha ligado para o rei de Espanha, tentando que este pressionasse a Prisa" - uma dessas pessoas foi Balsemão. Questionado depois pela deputada do CDS Cecília Meireles, que mencionou o seu cavalheirismo, o patrão da Impresa aproveitou essa sua característica para se recusar a comentar o assunto.
Sem querer dizer qual é, para si, o cenário que se vive hoje em Portugal, Francisco Pinto Balsemão descreveu perante a comissão dois cenários do que poderia ser um plano de tentativa de controlo da comunicação social: um a que chamou "magistral", em que incluiu diversos episódios que de facto aconteceram, outro de um "cenário do acaso e da incompetência", sobre os hipotéticos negócios que as escutas revelaram. Mas aproveitou para criticar o plano de produção legislativa do PS na anterior legislatura com o intuito de "enfraquecer os media privados e fortalecer os públicos". Balsemão, que confessou já ter sofrido muitas pressões ao longo dos anos, comentou que a PT "não avançaria" para a compra da TVI sem o conhecimento do Governo e sobre a Ongoing, que tentou comprar uma posição dominante e ter a gestão da Impresa, o dono da SIC preferiu não tecer grandes comentários.
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