Início Nuno Reis Reflexões

 

Descontem-se os eleitores, e ao certo não se sabe quantos foram, a quem o voto não foi permitido pelas trapalhadas do cartão único e motivos afins. Descontem-se aqueles, e continua a não se saber quantos são, que apesar de engrossarem os cadernos eleitorais já faleceram. Descontem-se todos os que, pelos mais variados motivos, não puderam deslocar-se à mesa de voto. Feitos todos os descontos, ninguém poderá negar que de entre os mais de 5 milhões que não votaram haverá muitos e muitos portugueses cuja descrença e distanciamento em relação à política é hoje grande. Não é apenas um partido que sai prejudicado. O descrédito de Sócrates e do actual Governo tem efeitos colaterais graves, por arrastamento, em toda a classe política.

 

E há também uma outra realidade. Aquela que não foi, nem na noite eleitoral nem no dia seguinte, suficientemente escalpelizada. Pessoalmente dou ao voto branco um significado muito mais forte do que ao “não voto”. E somados, os votos brancos representaram o sentimento de mais de 190 mil portugueses. Um número de votos superior ao conseguido por aquele a quem muitos chamaram a surpresa eleitoral, José Manuel Coelho, e quase o triplo dos votos conseguidos pelo altivo Defensor Moura. O voto de protesto de maior relevância está aqui.

 

No rescaldo, vergado ao peso de uma derrota inequívoca, o secretário-geral do PS e primeiro-ministro, José Sócrates, de rosto pálido e fechado, reagiu de forma inteligente. Fazendo jus à capacidade de comunicação que se lhe reconhece, procurou imediatamente tentar condicionar a atitude futura do Presidente reconduzido com referências repetidas sobre a necessidade de cooperação institucional.

 

Mas não é isso que deveria ser a sua preocupação principal. Da mesma forma que alguns dentro do PSD estarão bem enganados se pensam que Cavaco dará «boleia» rápida e certa para o regresso ao Governo. O, agora reeleito, Presidente de todos os Portugueses, deu mostras ao longo da sua carreira política de preservar a estabilidade como valor essencial da acção política. Dissolver a Assembleia, embora sendo possível, seria a última coisa que Cavaco faria. Arrisco mesmo, tal só acontecerá se não lhe restar outra alternativa. Concentrem-se, pois, os protagonistas políticas no essencial. Governar bem o país, num caso, fazer uma oposição sustentada e preparar uma alternativa de Governo, no outro.

 

É tempo de pensar apenas e só no país. Se tal não acontecer, é líquido que o distanciamento dos portugueses face à política tenderá a aumentar. A quem governa e a quem faz oposição: pensem nos 190 mil e não se esqueçam dos 5 milhões.

 

Nuno Reis

110124

- uma versão deste artigo foi publicada em

"O Primeiro de Janeiro" e no blogue "Câmara de Comuns" -

 

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Inquérito

O melhor desempenho na Assembleia

Francisco Assis - 6.3%
Jerónimo de Sousa - 6.3%
Francisco Louçã - 7.1%
Bernardino Soares - 6.3%
Heloisa Apolónia - 3.6%
Telmo Correia - 0.9%
João Semedo - 4.5%
Luís Montenegro - 17.9%
Nuno Magalhães - 3.6%
Carlos Zorrinho - 0.9%
António José Seguro - 15.2%
Carlos Abreu Amorim - 12.5%
Outros - 15.2%

Total de votos: 112
A votação para este inquérito já encerrou em: 30 Nov 2013 - 12:33